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Ela/Ele

           Deitado em sua cama ele não queria pensar em nada. Tinha desligado o telefone mas se arrependeu, ligou-o novamente. Esperava ela ligar.
          Andando de um lado para o outro ela não parava de pensar, sabia que deveria ser menos chata, mas estava convicta que ele pisou na bola. Já suportou tantas coisas. Olhou o celular. Ele ia ligar.
           Ele permaneceu deitado na cama, não queria mas não conseguiu, reviveu a última briga, última? Ele não queria acreditar que seria o fim, brigavam todos os dias, estavam desgastados, mas se amavam, disso ele tinha certeza. Olhou o celular. Nenhuma ligação. Nenhuma mensagem. Nada. Sentiu-se vazio...
           Vou me acostumar, ela pensava. Cansou de ser sempre prestativa, de ligar, atender, brigar, voltar. Era um ciclo vicioso e ela precisava se liberta. Não ia ligar dessa vez. Claro que disse isso outras vezes, mas sentia-se diferente agora, estava decidida. Guardaria e preservaria o pouco de amor próprio que ainda lhe restava.
          Pisei na bola, ele pensou. Pegou o celular e discou o numero dela. Chamou. Chamou. Rejeitou. Última briga, ela disse, besteira, ela sempre volta, na hora ele pensou. Agora não pensava mais, só tinha medo, não sabia viver sem ela, e ela? Ela sabe viver sem mim, deu-se conta, sempre soube por que sempre viveu. Medo, era só o que ele sentia, mais nada sem ela.
         Ela tentou relaxar, rejeitou as ligações, ele fez isso tantas vezes, tantas vezes ela chorou e sentiu-se rejeitada. Por isso era chata, na verdade nem era, só não tinha atenção, não era elogiada. Romântica ela não era, fútil também não, mesquinha de jeito algum. Mas queria atenção e ele nunca deu. Tomou banho, deitou, dormiu. Não relembrou nem reviveu a briga, foram tantas que nem a afetavam mais. Não sentia nada, ela percebeu, mas não se preocupou. Só dormiu e teve sonhos leves, leve como não sentia-se a muito tempo
        A amava, ele sabia, mas a tempos não dizia e quando escutava não dava importância. Preferiu o futebol ao piquenique. Preferiu a praia com os brothers ao fim de semana na Serra com ela e sua família. Não foi ao aniversario de 66 da avó, faltou ao enterro do tio, não a visitou quando esteve internada. Mas a amava, ele sabia. Nunca a traiu, nunca ficou com outras garotas mas também não ficou com ela.
        Se arrependeu, queria voltar atrás. Libertou-se, queria viver. Chorou em voz alta, soluçou e limpou a secreção que escorria do nariz com a manga da camisa. Colocou um vestido florido e abriu a janela, o sol estava lindo la fora, queria aproveitar. Acabou, ambos pensaram. Ela sorriu. Ele chorou.

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Te quero bem.

Descobri que te quero bem. Independe das tuas escolhas, do teu jeito e do teu mau humor. Quero que sejas feliz e que a sua maneira, tudo se encaixe e se encontre da melhor forma possível. Que teus amores perdidos decidam voltar pra casa, que teus amigos ingratos não lhe esquentem a cabeça. Que teu sorriso safado e sua cara marrenta se misturem e nunca percam o brilho. Descobri que te quero, de uma forma só, da mesma maneira anterior. Te quero bem.

"Bora lutar. Bora ser feliz."

VIVA-SE