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Mostrando postagens de março, 2020

Oxum é amor, Oxóssi é firmeza.

Os pássaros cantavam quando caminhei pelo entorno de Oxum. Sua melodia compôs a música que embalava meus passos. O vento, com sua leveza, coparticipou do soneto e misturou-se aos arranjos de vida que tocaram minha pele. Balançou levemente e persistentemente a estrutura óssea, pélvica, nervosa, capilar e emocional dentro de mim, tal qual o balanço das árvores verdes que crescem na beira do rio. O encontro de Oxóssi e Oxum me toca profundamente e desperta em mim a sensação de agradecimento pela vida, pelo ar que eu respiro, por ser quem eu sou. Meus olhos não se afastam do rio e nem do verde. Meus olhos contemplam a beleza dos pássaros que se banham e se relacionam nas águas deste rio. Eu vou seguindo e deixando o som da correnteza embalar minha respiração. Que eu seja a correnteza que passa e lava todo pensamento de desamor e toda forma de autossabotagem, porque Oxum é amor. Que eu seja como as árvores frondosas da mata, que balançam e permanecem de pé, enraizadas, porque Oxóssi é firme

Útero de nós mesmas

Nós vamos parir a revolução. Nós vamos parir a revolução. A nós coube a potência do gestar e estamos gestando a caída do muro, a construção da ponte, as cordas que nos puxarão para cima. Nós vamos parir um novo dia em que nosso parir não seja doloroso, não seja resposta de pecado, nem culpa pela dor do mundo. A gente tá parindo. Todo dia um filete de água burla a barreira das nossas calcinhas, desce e refresca nossas pernas e escorre em contato com a terra. Todo dia a água sai e se junta num grande rio. Estamos parindo a revolução de um dia que se constrói a partir da soma das nossas águas. Que encontra jeito e abre passagem entre as margens que oprimem. Estamos parindo e o nosso corpo é pura ebulição. Estamos nos transformando em vapor e condensadas na lâmina fria do machado afiado, vamos descer igual tempestade e fazer reviver os rios secos. Somos útero de nós mesmas e vamos parir a revolução.