Um dia nós vamos ter uma briga feia, e eu vou te dizer todos
os alvoroços que ficam entalados na minha garganta.
Um dia, quando eu lhe arremessar copos e pratos, quando você esmurrar a
parede, eu vou saber que chegamos no nosso limite e que já não dá pra
remediar.
Nesse dia, quando a sua voz se alterar e disputarmos quem fala mais alto, quando você me disser tudo que guardou pra si mesmo, por receio de uma briga
maior, vou lhe falar em alto e bom som que não tem remédio pra coisas tão
passadas.
Mas também vou encher minhas mãos de pedras e joga-las, uma a uma, com toda a
força do que eu sinto por você.
Vou revirar o arquivo de magoas e deslizes, do
mesmo jeito que você vai me jogar na cara a minha falta de tato e a minha insensibilidade.
E vai ser com essa mesma força que vamos reconstruir nosso castelo, o nosso
altar. Usando todas as pedras que foram, por nós mesmos, jogadas.
Vamos
deixa-lo tão alto que parecerá intocável a olhos nus de sentimento, olhos
ressecados por falta de amor.
E o nosso ninho encontrará paz.
E então nós dois teremos todo tempo do mundo
pra desfrutar do castelo. Até derruba-lo de novo.