Daqueles pensamentos que
vem depois que você dorme: Eu tinha planejado escrever um texto sobre o 8 de
março falando sobre o porque não devemos dar/receber rosas e parabéns superficiais,
mas não posso deixar a inquietação de lado e não falar sobre isso. Hoje eu falo
diretamente as mulheres, só a elas.
Amigas, a sororidade é
um desafio um tanto quanto difícil de encarar, eu sei. O processo de
desconstrução e reconstrução é doloroso, eu sei, mas é necessário. Precisamos
passar por eles.
Na vida temos a péssima
mania de acharmos que sabemos mais que todo mundo, e no movimento feminista
isso não é diferente. Varias vezes achamos que estamos aptas a falar sobre
determinado tema ou grupo quando na verdade não temos vivência alguma sobre
aquela situação. E acredite, ter vivência é extremamente importante para que
tenhamos legitimidade ao falar, ao dar voz aquela categoria.
É por isso que o
feminismo branco não entende o feminismo negro, que o transfeminismo não
compreende a não-aceitação do "cisfeminismo", e etc. O desafio da
interseccionalidade ainda é grande, mas também necessário.
Por diversas vezes
pensei que era impossível não falar por grupos ainda mais excluídos do que os
meus. Eu só conseguia entender que as mulheres estavam sendo oprimidas e que
alguém precisava quebrar o silêncio. Mas hoje eu sei que eu não posso
simplesmente quebrar o silêncio e deixar que aquela mulher continue sem
conhecer sua própria voz.
Talvez sororidade seja
isso: reconhece que a outra tem problemas diferentes dos meus, mas que alguma
coisa nos une. O “ser mulher” nos une. Mas cada uma tem o direito de ter voz e
o dever de ajudar a outra a encontrar a sua, para que cada uma fale sozinha e
aumente o coro e o volume do trombone.
Sororidade é se colocar
no lugar da outra e perguntar se "se fosse comigo, eu estaria
feliz?", "se fosse comigo, eu perdoaria?", "foi pra isso
que o feminismo me libertou?".
Não podemos e nem
devemos esquecer que o feminismo nos liberta sim! Somos livres na nossa
sexualidade, nosso direito ao corpo, nosso cabelo, tudo (mesmo que o Estado e
qualquer outra coisa ainda diga que não, é isso que o feminismo nos ensina
certo??).
Mas ele também fala
dessa sororidade, desse ato de amor e de reconhecimento de todas as mulheres
como irmãs. Ele destrói essa lógica perversa de que se somos mulheres, logo,
somos rivais.
Mentira, não somos. Eu
não vou disputar alguém com você. Eu não vou ter inveja do teu corpo diferente
do meu. Eu não quero que o teu cabelo caia só porque tem mais brilho que o meu.
Nem que você se acabe em celulite porque a sua bunda é maior que a minha. E de
novo, eu não vou disputar alguém com você.
Aprender a não deixar
que elxs, independente do gênero, nos coloquem como rivais é indispensável.
Me colocar no lugar da
outra mulher para testar meus limites é indispensável.
Talvez sororidade seja
isso: colocar as necessidades e o respeito as mulheres em primeiro lugar na
vida das próprias mulheres.
Mais sororidade nesse 8
de março. E todos os dias do ano.