Dia Nacional e Internacional
da Mulher Negra - 25 de julho!
Por Valéria Martins
Há 22 anos, aconteceu na República
Dominicana, o I Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas.
O encontro contou com a representação de 70 países e foi realizado com o
objetivo de colocar em debate as especificidades da luta das mulheres negras
destes países. A partir disso temos a criação do Dia Internacional da Mulher
Negra Latino-Americana e Caribenha.
No Brasil, a Presidente Dilma
legitima a data como Dia Nacional de Tereza Benguela* e da Mulher Negra.
Passamos assim a ter uma data internacional e nacional para lembrarmo-nos das
mulheres negras guerreiras que mudaram a história do mundo e do país, e também
para reavivarmos o sentimento de que a luta ainda não terminou.
Mas porque um “Dia Nacional da
Mulher Negra”?
Porque ainda somos sub
representadas nos espaços decisórios: Embora as mulheres tenham avançado e
conquistado cada vez mais espaços no mundo, a inclusão delas nos espaços de
decisão e em diversos setores da sociedade ainda é pequeno. Fazendo o recorte
de raça, teremos uma participação ainda menor de mulheres negras nesses espaços
decisivos. Acreditar que vivemos em uma democracia racial e igualitária entre
os gêneros faz com que essa situação continue assim. Enquanto não entendermos
que o racismo, aliado ao machismo, é estrutura e estruturante dessa sociedade
não conseguiremos enxergar que a situação precisa mudar, e que somente com uma
reforma política e social, conseguiremos de fato mais mulheres negras nos
espaços de poder.
Porque é necessário olhar para
as diferenças: A luta das mulheres negras sempre foi diferente da luta das
mulheres brancas. Isso acontece porque a forma como somos tratadas e vistas
pela sociedade é diferente. Todas sofremos com o machismo, mas somente as
mulheres negras conhecem a dupla opressão do machismo e racismo, e por conta
disso, é ainda designada a espaços específicos de subalternidade. Quando, o
feminismo clássico decidiu tomar as ruas exigindo que as mulheres tivessem
direito a trabalhar fora de casa, não ter filhos e etc, não sabiam e/ou
ignoravam o fato de as mulheres negras já estarem nas ruas, trabalhando para
sustentar suas casas e queriam voltar para ela, para cuidarem dos seus filhos.
O lugar de pertencimento de
ambas sempre foi muito “escuro” (rs). À mulher branca designou-se o espaço
privado: sua sexualidade e seu corpo sempre foi tratado diferente, permaneciam
no conforto de suas casas, e possuíam quem criasse/cuidassem de seus filhos. À
mulher negra, designou-se o espaço público: seu corpo e sua sexualidade sempre
foram explorados e abusados, cuidando dos filhos das outras, quando ninguém
cuidava dos seus.
Sim, todas sofremos com a
opressão do machismo, e nenhuma mulher possui privilégios por conta dele. Vamos
lutar juntas para acabar com o patriarcado heteronormativo, mas é crucial que
lutemos contra o racismo, para que todas sejamos livres.
Por mais representatividade e
contra os padrões elitistas de beleza: No Brasil, e no mundo, as mulheres
negras correspondem a parte mais pobre da população e a maior parte dela também,
uma vez que juntas aos homens, somos mais da metade da população brasileira.
Entretanto, a quantidade de mulheres negras no nosso país não é e nunca foi
suficiente para que nos enxergassem de fato, como nós somos. Nos programas de
tv, nas emissoras de rádio, nos blogs da internet, campanhas publicitarias e
afins, a imagem da mulher negra raramente aparece, e quando está lá, continua
sendo objetificada e hiper sexualizada, pois ainda vendem (e se vendem é porque
ainda compram) a imagem de uma mulher negra fogosa, pronta para e somente o
sexo. Nunca somos vistas como público alvo, potenciais consumidoras, somos o
“prêmio do terceiro lugar”, as “morenas tipo exportação”. O padrão opressivo de
beleza reforça a concorrência entre as mulheres, e uma corrida injusta e
desnecessária para se adequar a ele. O elitismo da hegemonia designou o branco
europeu como o belo, colocando todas as outras belezas como inferior,
principalmente a beleza negra.
Porque precisamos de trabalho
e oportunidades dignas: Ainda somos aquelas que, em grande maioria, irão
encontrar como diaristas/domésticas, nas empresas de terceirização, empregos
informais e clandestinos. Embora todas essas profissões sejam dignas, serem
ocupadas majoritariamente por mulheres negras reflete o racismo e a
subalternidade com a qual somos tratadas. Entre as classificações da pirâmide
de gênero-racial (homem branco, homem negro, mulher branca, mulher negra),
somos aquelas que recebem os piores salários e possuem as piores condições de
trabalho, muitas vezes precisando recorrer a terceirização, que diminui e
precariza ainda mais a qualidade de trabalho.
Porque entramos nas escolas e
universidades, mas precisamos permanecer: A evasão escolar e o abandono das
universidades por parte de mulheres negras é altíssimo. A necessidade de
trabalhar para auxiliar nas despesas da casa estudar não é fácil. Em muitos
núcleos familiares aos quais essas jovens pertencem, são formados pela mãe
(muitas vezes abandonada pelo companheiro) e filhos (e as vezes agregados). Com
as dificuldades já mencionadas acima, escolher entre trabalho e estudo não é
tarefa fácil, mas indiscutível. Com a criação e manutenção de mais políticas de
assistência estudantil, podemos reverter o quadro de evasão e abandono. Tarefa
difícil, mas que precisa ser conquistada. E lutaremos por ela!
Por tudo isso e vários outros
motivos, temos 25 de julho como Dia (Nacional) e Internacional da Mulher Negra
Latino-Americana e Caribenha. Que as homenagens às mulheres negras que fizeram
história sejam feitas, mas que não esqueçamos que as conquistas até aqui ainda
são poucas, e temos muito mais para lutar e conquistar.
Em 25/07/2015, publicado
originalmente na página ParaTodas Brasil