Não tenho mais idade para ser apegada
a ninguém. Tô velha demais pra me apaixonar. Ficar com ciúmes, passar a noite
imaginando se o outro também pensa em mim... Quero não. Prefiro o silencio
tranquilo do coração quieto, o sossego da entrada do ar nos pulmões sem
ressecar a garganta, a simplicidade de deitar na minha cama e ler aquele livro
que tanto adiei.
Prefiro o quarto cheio de mim,
que sou tão espaçosa e tão cheia de minhas manias. Mania de silencio, de querer
estar só. Não tenho, e nunca tive, paciência
para ser comparada com as outras, as que vieram antes de mim e por algum motivo
não ficaram. Não tenho idade para marcar os olhos com lápis preto apenas porque
isso que fazem. Nem para andar com a boca borrada de batom vermelho, porque é
assim que se gosta.
Não tenho vocação para ser
apaixonada, perder a cabeça, tapar os ouvidos e se fazer de rogada. Idade tenho
para fechar os olhos, e os faço com frequência. É que não tenho mais idade para
o que me frustra, para o que me desgasta,
me tira do sério. Daí me retiro, me blindo, me fecho. Já nem escuto. Nem passa
pela minha cabeça pedir desculpas, não tenho idade para isso. Lido da forma
mais tranquila possível com os meus conflitos. Aprendendo a cada dia que quando
um não está disposto, o outro tira o cavalo da chuva. No final podem até tomar
um café quente para não se resfriar. Mas isso, aprendi com a idade, pra isso
tenho idade sim senhor.
Mas tô velha demais pra me
apaixonar, e muito mais velha pra racionalizar paixão. Prefiro não ter que
explica todos os meus olhares, contar sobre todos os meus sorrisos, por pra
fora meus pensamentos. Prefiro ter meu
espaço. Pagar todas as dívidas por que não tenho idade pra ser cobrada. Poder
ficar com a cara estranha sem receber ameaças de partidas. Porque não tenho
idade para implorar que alguém fique.