Acho que ainda escrevo sobre você na esperança de que daqui
há alguns meses essas palavras só façam sentido para quem ler, como aqueles
textos que achamos na internet e juramos que foi escrito pra gente, como se
quem estivesse do outro lado da tela nos conhecesse intimamente.
Nenhuma das vezes que você partiu foi tão perturbadora como
esta última. Na verdade, pouco tempo depois da sua partida eu quebrei.
De início a
surpresa trouxe alívio. Ah! Quase cantei o sentimento de liberdade. Eu sufocava
ao seu lado, eu vivia me afogando sem saber quando seria a última respiração.
Quando eu iria enfim ser feliz sem temer a próxima onda. Logo eu, que gosto
tanto do mar.
E então sufoco de novo. Me faltou ar. Me faltou eu mesma
disponível pra mim porque eu só conseguia pensar em você. Até que a cada
pensamento uma lembrança sua eu ia matando. Era elas ou eu.
Conscientemente decidi me salvar.
Joguei fora nossas fotos, excluí cada coisa que pudesse
remeter a você e me lembrasse de que um dia dividi contigo meu corpo. E mais
que o corpo, minha alma. E sempre foi pouco.
O pouco pra você era tudo que eu podia dar. E dei ao ponto
de não ter quase nada pra mim.
Amar você era me perder de mim. Então talvez eu não tenha
sido burra em guardar aquela pontinha, aquela brasa que permanece acesa, mas
não tem condições de levantar o fogo, até que seja estimulada novamente.
Meu estímulo é saber que daqui a pouco nenhuma célula do meu
corpo terá memórias suas. Minha pele não terá mais seu cheiro e entre minhas
pernas não haverá nenhum calor ao menor pensamento em ti.
Meu estímulo é saber que cada palavra escrita, num futuro
próximo, não causará coisa alguma. Não fará menção a nada. Nem a ninguém.
Escrevo na esperança de que sejam as últimas palavras de um
amor que tinha tudo pra dar errado e deu.
Escrevo pra te dizer que "eu não sinto falta. eu sinto ânsia. distância. (...) sinto ânsia e a provoco. enfio meus dez-dedos na garganta pra ver se vomito teu ser da minha alma."