Acordei me olhando no espelho e verificando quantas espinhas murcharam do dia para a noite. La fora o som dos ônibus dobrando a esquina como se fossem virar. Eu moro numa encruzilhada. E ela se faz presente aqui dentro também.
A barriga ronca de fome me pedindo pra sair do quarto. Me chamando pra tomar um café, comer uma comida leve e tentar encarar o dia. Não vou. Não quero ir. Quero ficar aqui, na cama, fingindo analisar a encruzilhada no meu peito. Fingindo que não corro contra o tempo e me conheço melhor que ninguém.
Faço o café amargo. Lembro das tarefas mecânicas que precisam de atenção. Limpar o quarto, escreve o relatório, cozinhar, estudar, respirar, comer. Não cair em tentação.
Ave, quem pensa que conhece a si mesmo, sem conhecer, passa pela encruzilhada e nunca pede licença. E ela só vai aumentando. Vai tomando todas as vias.
Não, todas as vias levam a ela. Já é tarde.
Bebo o café, me coloco pra vida. E olho pros dois lados antes de atravessar a rua. Vejo os ônibus quase virar ao dobrar a esquina.
Agô!